quarta-feira, 19 de setembro de 2012

“A obsessão pelo melhor”



Estamos obcecados com o “melhor”. Não sei quando começou essa mania, mas hoje só queremos saber do “melhor”. Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho.
Bom não basta. O ideal é o top de linha, aquele que deixa os outros para trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes porque, afinal, estamos com o “melhor”.
Isso até que outro “melhor” apareça e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer.  Novas marcas surgem a todo instante. Novas probabilidades também. E o que era melhor, de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que podemos ter.
O que acontece quando só queremos o melhor é que passamos a viver inquietos, num espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego. Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter. Cada comercial de TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos. Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah.... os outros.....) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários. Aí a gente  não relaxa porque tem que correr atrás, de preferência com o melhor tênis.
Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente. Se não dirijo a 140 preciso realmente ter um carro com tanta potencia? Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo  de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa? E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto? O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o “melhor chef” Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro? O cabelereiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo “melhor” cabelereiro?
Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixado ansiosos e nos impedido de desfrutar o “bom” que já temos.
A casa é pequena, mas nos acolhe. O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria. A TV está velha, mas nunca deu defeito. O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os homens “perfeitos”.
As férias que não ver na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai me dar a chance de estar perto de quem amo. O rosto que não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me constituem. O corpo que não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer. Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso? Ou será que isso já é o melhor e na busca do “melhor” a gente nem percebeu?
 
      “ Sofremos demais pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos” – Shakespeare