- Em primeiro lugar, busque o prazer
de ler : ainda que seja uma leitura densa, dolorosa e triste, há prazer em compartilhar esses sentimentos todos em comunhão artística com o autor e os outros leitores. Descubra como ter a leitura como objetivo e manter o seu prazer. - Tenha sempre um livro consigo
: sempre surge a oportunidade de avançar na leitura de um livro, seja na fila do banco, no ônibus ou em algum outro momento inesperado. Atenção: não vá se tornar uma pessoa anti-social. Às vezes uma boa conversa pode ser melhor para passar o tempo. Para esse item, prefira livros pequenos, fáceis de carregar. - Cuide de seus olhos: a não ser que você já domine o braille, vai preferir manter seus olhos em ótimo funcionamento. Esteja atento e faça exames periodicamente. Se precisar usar óculos, use. Fique bem informado sobre seus olhos.
- Tenha meios alternativos de leitura: a tecnologia fornece diversas alternativas para atualizar as leituras. Ler na tela do computador pode ser desconfortável, mas já existem formas de ler bons livros, um pouco de cada vez, recebendo pequenos trechos de cinco minutos por em seu email diariamente. Você sabia que até mesmo em seu celular você pode ler livros?
- Aperfeiçoe a sua leitura: de que adianta ler se você mal lembra da história um mês depois? Para ler um livro velho como se fosse novo? Bem, a idéia não é má e reler um bom livro sempre é bom, mas se você quer reter mais de tudo aquilo que lê, escolha uma maneira de fazer isso.
- Aprenda de uma vez por todas como funciona um agregador de feeds
: vamos assumir que, se você está lendo este artigo, você lê blogs. Se lê blogs e ainda não sabe usar um agregador de feeds está muito atrasado e está perdendo tempo ao ter sempre que acessar os seus sites preferidos para saber se eles já foram atualizados ou não. Possivelmente, está perdendo até mesmo textos interessantes. E, muito provavelmente, de blogs que falam de livros, literatura ou que fazem literatura propriamente dita. Aprenda de uma vez a utilizar um agregador de feeds. - Prefira livrarias com bom atendentes: nem sempre os vendedores de livrarias são as melhores pessoas para indicar livros
, mas sempre há aquele profissional que se destaca. É aquele que conhece seus gostos e sabe indicar de forma certeira um livro de que você vai gostar. Ou ao menos lhe avisar quando aquela edição que você tanto espera chegou na loja. Em geral, essas pessoas estão nos sebos. Mas há também livrarias com profissionais assim como, em Curitiba, a do Chain e a, infelizmente fechada, do Eleotério. - Saiba fazer pequenos reparos em livros: nem sempre vale a pena. Livros são feitos hoje como um produto qualquer e muitos não valem um centésimo da árvore de onde saiu sua celulose. Mas o bom leitor tem sempre uma ou outra edição rara ou feita com aquela arte que mais não há. Para esses, saiba fazer pequenos reparos e como secá-los no caso de molhados. Mas para evitar esses problemas…
- Saiba como guardar seus livros: a melhor maneira de conservar um livro é não o guardando, mas fazendo com que ele circule de mão em mão. O objetivo de um livro é conservar o conhecimento para que esse conhecimento se propague. Guardá-lo em uma estante para o resto da vida é o mesmo que queimá-lo. Mas se você não for capaz de tal generosidade, aprenda a conservar seus livros.
- Tenha ao menos um desafio para cada ano: escolha uma grande obra que ainda não tenha lido e comprometa-se a lê-la.
- Leia menos para ler mais: se você lê até o ponto de ficar cansado ou de passar os olhos sobre a página sem que se lembre ou tenha consciência do que acabou de ler, algo está errado. Você precisa aprender a parar de ler antes que isso aconteça para que seu horizonte de leitura se amplie e para que a leitura sempre esteja associada a uma atividade prazerosa. Lembre-se: para ler mais, leia menos, mas com mais qualidade.
- Saiba onde conseguir livros grátis: livros não são baratos. Você pode conseguir livros grátis na internet com facilidade. Ler na tela ainda é desconfortável, mas esteja ciente das mudanças tecnológicas. É possível que os eBook Readers se popularizem ou, então, alguma outra forma de leitura. Mudanças vão acontecer, não há dúvida. De outra forma, você estaria lendo ainda em papiros e tendo que aprender o funcionamento do livro, essa tecnologia tão recente.
domingo, 25 de novembro de 2012
12 dicas que facilitam o hábito da leitura por Alessandro Martins
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
“A obsessão pelo melhor”
Estamos obcecados com o “melhor”. Não sei quando começou essa mania, mas hoje só queremos saber do “melhor”. Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho.
Bom não basta. O ideal é o top de linha, aquele que deixa os outros para trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes porque, afinal, estamos com o “melhor”.
Isso até que outro “melhor” apareça e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer. Novas marcas surgem a todo instante. Novas probabilidades também. E o que era melhor, de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que podemos ter.
O que acontece quando só queremos o melhor é que passamos a viver inquietos, num espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego. Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter. Cada comercial de TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos. Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah.... os outros.....) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários. Aí a gente não relaxa porque tem que correr atrás, de preferência com o melhor tênis.
Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente. Se não dirijo a 140 preciso realmente ter um carro com tanta potencia? Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa? E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto? O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o “melhor chef” Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro? O cabelereiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo “melhor” cabelereiro?
Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixado ansiosos e nos impedido de desfrutar o “bom” que já temos.
A casa é pequena, mas nos acolhe. O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria. A TV está velha, mas nunca deu defeito. O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os homens “perfeitos”.
As férias que não ver na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai me dar a chance de estar perto de quem amo. O rosto que não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me constituem. O corpo que não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer. Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso? Ou será que isso já é o melhor e na busca do “melhor” a gente nem percebeu?
“ Sofremos demais pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos” – Shakespeare
domingo, 19 de agosto de 2012
Eu era Feliz e não sabia (?)
Pensando nesse frase me ocorre que se "era feliz e não sabia", quer dizer que não se viveu a intensidade de poder saber dessa felicidade?
Se o tempo passa e só depois percebe-se essa felicidade existe algo que não está coerente.
Ou não se sabe o que é felicidades, ou se tem uma ideia de felicidade que não é a que realmente é.
Felicidade que é felicidade só depois de algum tempo não é felicidade. Pode ser qualquer outra coisa, menos felicidade.
A felicidade é uma saciedade de que o momento que se está passando é mais importante que qualquer outra coisa que possa acontecer. Ela é mais interna, mais uma expressão de gratidão pelo momento, do que a percepção posterior da situação.
Isso tudo leva a pensar que ou a ansiedade impede a felicidade ou não se sabe viver feliz.
Felicidade é gratidão pelo que se passa, é ver a situação com outros olhos, com óculos de possibilidades e alegria. É perceber que agora é tudo o que se tem e que amanha pode ser que não exista.
É curtir o que se apresenta de forma única, magica e perfeita nessa ocasião. Não questionar o por que se está passando como forma de querer se livrar dessa situação e sim como aprendizado de novas condições de aperfeiçoamento.
Viver a felicidade é viver o agora com sorriso e com um olhar de "isso pode ser legal". Se "isso" não tivesse acontecido o que se terá para contar no futuro? Felicidade é rir dos "erros", e brincar com possibilidades e aproveitar os mínimos detalhes como oportunidade de ser FELIZ.
Seja feliz.
Se o tempo passa e só depois percebe-se essa felicidade existe algo que não está coerente.
Ou não se sabe o que é felicidades, ou se tem uma ideia de felicidade que não é a que realmente é.
Felicidade que é felicidade só depois de algum tempo não é felicidade. Pode ser qualquer outra coisa, menos felicidade.
A felicidade é uma saciedade de que o momento que se está passando é mais importante que qualquer outra coisa que possa acontecer. Ela é mais interna, mais uma expressão de gratidão pelo momento, do que a percepção posterior da situação.
Isso tudo leva a pensar que ou a ansiedade impede a felicidade ou não se sabe viver feliz.
Felicidade é gratidão pelo que se passa, é ver a situação com outros olhos, com óculos de possibilidades e alegria. É perceber que agora é tudo o que se tem e que amanha pode ser que não exista.
É curtir o que se apresenta de forma única, magica e perfeita nessa ocasião. Não questionar o por que se está passando como forma de querer se livrar dessa situação e sim como aprendizado de novas condições de aperfeiçoamento.
Viver a felicidade é viver o agora com sorriso e com um olhar de "isso pode ser legal". Se "isso" não tivesse acontecido o que se terá para contar no futuro? Felicidade é rir dos "erros", e brincar com possibilidades e aproveitar os mínimos detalhes como oportunidade de ser FELIZ.
Seja feliz.
sábado, 18 de agosto de 2012
Dá-me asas!
Ontem fui para o jardim e desenhei um anjo.
— Obrigado — disse-me ele quando me preparava para lhe desenhar as asas. — Está muito bonito. Mas não me desenhes essas asas. Sabes, aquelas em que estás a pensar agora, com as grandes penas brancas.
— Porque não?
— Essas incomodam um pouco. Estão sempre a atrapalhar, a prenderem-se nos ramos, nos fios da electricidade, e, como sou um tanto distraído, bato com elas em todo o lado. Ah! E sujam-se imenso! Gostava de ter uma coisa nova. Pensa em algo de diferente. Dá-me asas...
Desenhei-lhe então asas de ondas de mar, depois, asas de erva e asas de vidro reluzente. Tentei também com uma fita de luz, com um raio de sol, com ramos em flor, com um turbilhão de neve e até com uma centelha de alegria. Experimentei asas de algodão, asas de vento e até mesmo asas de imaginação!
Desenhei-lhe asas de letras e asas de papel branco.
Observei-o atentamente e dei-lhe umas asas com sardas.
— Obrigado — disse o anjo quando acabou de experimentar todas as minhas asas. — Gostei muito de tudo o que me deste. Mas agoraé a tua vez!
Fechei os olhos. De repente, senti que tudo estava a ficar leve. Tive a impressão de perder o meu corpo e de ficar só com os meus contornos.
— Desta vez vamos dar só um passeio pequenino — disse o anjo. — Para que em tua casa ninguém fique preocupado com a demora.
E voámos por três vezes em volta da velha nogueira do meu jardim.
Heinz Janisch
Schenk mir Flügel
St. Pölten, NP Buchverlag, 2003
(Tradução e adaptação)
sábado, 16 de junho de 2012
O "Meu ou Seu"
Vendo algumas postagem sobre aqui é MEU face, MEU orkut, MEU apartamento..... MEU.. MEU... MEU. O que está se deixando de lado é o que o MEU termina onde começa o SEU.
A página é pública, então se pode até postar tudo o que se quer do tempo, espaço, vida, filhos, marido, namorado entre outras coisas, e junto levar em conta que o que se posta tem consequências, reação e comentários.
Se as pessoas não querem que seja comentado, deviam pensar sobre o que postar ou então estar preparados, para ver e ou ouvir sobre o que foi postado, quem expõe opinião está sujeito.
Vive-se um período de....o apartamento é Meu... e liga a música no mais alto volume, esquecendo que o outro também tem o seu apartamento e com todo os direitos que os seu.
Existe um espaço chamado espaço público e esse mesmo público não é de um só sujeito, mas de uso de vários, não dando o direito de uns poucos fazerem o que querem.
Mesmo no espaço privado existem leis e normas, seja dada pela familia ou pelo governo, sociedade e outrem.
Enquanto o sujeito que acha que tudo é seu, o mundo continuará da maneira que está, cada um pensando só no seu. Querendo os seus direitos, fazendo o que acha que deve ser feito.
"Amar ao próximo como a ti mesmo", Ou parece que ficou só na Igreja ou então prova a falta de amor próprio.
É urgente a necessidade de achar espaço interno para que o outro faça parte e também tenha direitos iguais aos seus, meus e nossos.
A página é pública, então se pode até postar tudo o que se quer do tempo, espaço, vida, filhos, marido, namorado entre outras coisas, e junto levar em conta que o que se posta tem consequências, reação e comentários.
Se as pessoas não querem que seja comentado, deviam pensar sobre o que postar ou então estar preparados, para ver e ou ouvir sobre o que foi postado, quem expõe opinião está sujeito.
Vive-se um período de....o apartamento é Meu... e liga a música no mais alto volume, esquecendo que o outro também tem o seu apartamento e com todo os direitos que os seu.
Existe um espaço chamado espaço público e esse mesmo público não é de um só sujeito, mas de uso de vários, não dando o direito de uns poucos fazerem o que querem.
Mesmo no espaço privado existem leis e normas, seja dada pela familia ou pelo governo, sociedade e outrem.
Enquanto o sujeito que acha que tudo é seu, o mundo continuará da maneira que está, cada um pensando só no seu. Querendo os seus direitos, fazendo o que acha que deve ser feito.
"Amar ao próximo como a ti mesmo", Ou parece que ficou só na Igreja ou então prova a falta de amor próprio.
É urgente a necessidade de achar espaço interno para que o outro faça parte e também tenha direitos iguais aos seus, meus e nossos.
sábado, 24 de março de 2012
A jarra partida
Partiu-se a jarrinha, aquela jarrinha de flores pintadas à mão, tão elegante, tão graciosa que era o enlevo de todas as pessoas que passavam por nossa casa.
— Está na nossa família há séculos. Dizem que foi oferecida por uma rainha de antigamente a uma antepassada nossa — explicava a minha mãe, enternecida, a olhar para a jarrinha de flores pintadas.
Pois, mas partiu-se. Partiu-se em cacos inumeráveis que não há conserto nem cola que lhe valham. Quem foi o desastrado?
— Eu não — safou-se o Tiago. — Quando eu cheguei a casa, já a mãe estava a chorar.
O meu irmão Tiago ficou livre de qualquer suspeita.
— Eu também não fui — apressou-se a dizer o meu pai. — Quando eu cheguei a casa, já a vossa mãe estava a ser consolada pelo Tiago.
— Eu é que não fui — choramingou a minha mãe. — Tinha tanta estimação na jarrinha. Quando eu cheguei a casa, não havia cá ninguém e já a jarra estava partida em mil bocados. Por pouco que não desmaiava de desgosto.
— Só se foi o Bolinhas... — lembrou o Tiago.
O nosso gato Bolinhas desenrolou-se com muita dignidade e disse:
— Eu não fui nem tenho nada a ver com o assunto.
E voltou a enrolar-se e a adormecer. Ai, quem me dera ter podido fazer o mesmo!
— Fui eu — balbuciei.
Todos se viraram para mim.
— Tu, Marcos? E estavas calado?
Suspirei fundo e comecei a contar o que acontecera. À medida que contava, ia ficando mais tranquilo, sem aquela insuportável queimadura nem sei onde – no estômago? No coração? na barriga? – que me fizera correr de casa para a escada, da escada para a rua, como se tivesse lançado fogo ao prédio. Ou a mim próprio.
Tinha sido um azar. É sempre um azar. Para meter a ficha do gravador de vídeo na tomada da parede, tive de arredar um bocadinho a estante. Não contava que fosse tão pesada. Com a inclinação da estante, os livros escorregaram. Precipitei-me sobre eles, para evitar o desmoronamento. Não medindo os gestos, dei um encontrão numa mesinha que abalou o expositor onde estava a jarrinha. Estremeceram as bonecas de Saxe e saltaram as chávenas de café nos respetivos pires... A jarrinha, como a casca de um ovo, partiu-se. Acho que ela estava, há muito tempo, à espera de partir-se. Qualquer estremecimento lhe daria o pretexto. Dei eu. A culpa foi minha.
Disse isto com um ar tão enfiado, tão de lamentar, que o círculo acusador à minha volta se desanuviou e desfez por si. A minha mãe, suspirando, foi varrer os vidros da jarra para uma caixa, na ilusão de que talvez ainda pudesse ser restaurada, o Tiago lançou-me uma piscadela de olhos de “fixe, meu”, e o meu pai, antes de mergulhar no jornal, confidenciou-me:
— Sabes: a jarra realmente já estava partida. Há tempos, na balbúrdia de uma brincadeira com o Bolinhas, que ainda era gatinho, a jarra rachou-‑se. Isto é, rachei-a... Como estava sozinho em casa, tive tempo de consertá-‑la o melhor que pude, para não dar um desgosto à tua mãe. Mas, de facto, a jarra já estava partida.
Por aquela não esperava eu.
— Tu tiveste muita coragem em confessar — continuou o meu pai. — De aqui a bocado, ao jantar, quando estivermos todos juntos, vou ser eu a precisar de coragem. E desculpa...
O meu pai abriu à sua frente as longas páginas do jornal, não sei se para lê-las, se para esconder a cara do embaraço. Também é preciso coragem para pedir desculpa.
António Torrado
O que esta historia tem a ver com a Psicologia? tudo.... quando falamos aquilo que supostamente é vergonhoso e causa constrangimento, vem o alivio, físico e emocional.
Honrar a palavra
No negócio de mobílias usadas, não se pode comprar por catálogo, como se faz com as novas. As pessoas aparecem e o comerciante tem de ir às casas vê-las e fazer o seu preço. “Não se pode vender o que não se tem,” costumava dizer o meu pai. Por isso, estas visitas eram de extrema importância para ele.
Quando eu tinha 13 anos, o meu pai ficou sem o gerente da loja, um homem que, com o seu único braço, trabalhava muito mais do que muitas pessoas com os dois. Conseguia, por exemplo, suspender uma cadeira da ponta de uma vara, içá-la no ar e fazê-la deslizar até uns ganchos presos ao teto, bem à vista de todos quantos entravam na loja. Na falta do gerente, o meu pai veio pedir-me ajuda, pedindo-me que ficasse à frente do balcão enquanto ele procedia às visitas do dia, até se encontrar a pessoa certa. A loja tinha dezenas de milhar de objetos. “As pessoas gostam de regatear,” disse-me, “por isso não há preços marcados. Apenas tens de ter alguns pontos de referência.”
Levou-me a dar uma volta pela loja. “Podes vender um pequeno motor por quatro dólares. Por um frigorífico, dependendo do estado em que se encontrar, podes pedir entre trinta e cinco e sessenta dólares. Se tiver congelador, poderás ir até aos oitenta, vá lá, até aos cem dólares, caso esteja em ótimo estado. Se uma junta estiver solta, é para o lixo. Não ligues a riscos ou rachadelas. Os pratos vêm com a mobília e nem sequer os levo em consideração quando lhes atribuo o preço. Poderás vendê-los por um preço simpático, algures entre os cinco e os vinte e cinco cêntimos.”
Todos os dias depois da escola, voava na minha bicicleta até à loja. Um dia, estava eu a escrever o preço de um prato muito bonito numa tirinha de papel quando o meu pai entrou. Tinha pedido um dólar e o comprador não hesitou. Fiquei todo contente. O meu pai viu o que eu estava a fazer, virou-se para o cliente e disse, “Que bela pechincha leva aí! O meu empregado fez-‑lhe o preço e é esse o preço certo.” Mais tarde, perguntei ao meu pai, “Porque é que o pai disse aquilo?”
Tratava-se, pelos vistos, de um prato antigo que valia umas boas centenas de dólares. Fiquei descoroçoado. Tanto que me esforçava por dar o meu melhor. Pelos vistos, em vez de ajudar o meu pai, estava a fazê-lo perder dinheiro.
“Se quisesse, podia ter impedido o negócio,” disse ele. “Estavas a escrever o preço e ainda não tinhas pegado no dinheiro. Além disso, és menor de idade. Só que um judeu honra a sua palavra e a dos seus colaboradores.”
Este incidente haveria de ter uma consequência. Anos mais tarde, a minha mulher e eu tivemos de mandar uma grande quantia de dinheiro para a nossa filha em Israel. Um funcionário do banco aconselhou a minha mulher a enviar o dinheiro através de cheque visado, uma vez que, dessa forma, estaríamos isentos do pagamento de comissões. Quando recebi o extrato bancário, porém, reparei que nos tinha sido debitada uma série de taxas. Decidi, então, ir falar com a gerente do banco e explicar-lhe que um funcionário seu é que nos tinha aconselhado sobre a melhor forma de evitar despesas com o envio do dinheiro. Ouviu-me em silêncio e, no final, disse apenas, “Lamentamos o sucedido, mas acontece que o colega deu uma informação errada.”
Foi então que lhe contei a história do meu pai e de como ele fazia sua a palavra dos seus empregados, honrando-a. Terminei, dizendo, “Isto aconteceu sem que o cliente tivesse sido lesado e tendo o meu pai descoberto o erro antes de a transação ter sido efetuada. Imagine só como ele teria agido se tivesse havido danos! Espero que o meu banco atue no mínimo com a mesma integridade do meu pai.”
Durante todo o tempo em que falei, a gerente não proferiu palavra e assim continuou, enquanto eu aguardava a sua reação. Quando falou, a voz era suave. “O Banco de Comércio Imperial do Canadá não ficará aquém do seu pai,” disse, com toda a dignidade. Prometeu, então, a anulação de todas as taxas indevidamente cobradas.
Enquanto lhe agradecia e me preparava para ir embora, senti-me grato por uma história de integridade ainda ter o poder, nos tempos que correm, de tocar os corações e acordar consciências no mundo impessoal dos negócios.
Rabbi Roy D. Tanenbaum
Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Rabbi Dov Peretz Elkins
Chicken Soup for the Jewish Soul
HCIbooks, Deerfield Beach, 1999
(Tradução e adaptação)
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